terça-feira, 1 de julho de 2008

Volta para casa, Inter!

O Inter é, hoje, vítima de seu próprio sucesso. Sim, parecemos aquelas pessoinhas do interior que, alçadas rápida e inesperadamente ao estrelato, perdem-se no meio do caminho e em pouco tempo caem no esquecimento, sem que ninguém se dê conta. Quantos destes não vimos nas últimas décadas, um sucesso tão estonteante quanto fugaz, na música, no cinema, na televisão e, por quê não, no esporte?
Isto acontece por diversos motivos, mas o caso Colorado parece ser daqueles que esqueceram-se de suas origens, seus valores e, principalmente, dos diferenciais que ajudaram-no a alcançar o topo. Envaidecido, perdeu-se no caminho, esqueceu-se quem é e porquê está aqui, parece aquele mineirinho da piada, que cai do caminhão e sai repetindo "concossô, oncotô, proncovô?". Realmente, o sucesso é difícil de administrar em uma pessoa, imagine em uma instituição multifacetada e complexa como nosso amado Sport Club Internacional, onde a dimensão do estrago pode e deve ser medida tanto em extensão quanto em profundidade.
Com efeito, a solução parece uma só: retornar às origens, refazer o caminho de casa, largar todo glamour mundano do showbis e voltar para a casinha lá na província, onde tudo começou, sem nada, absolutamente nada. Neste caminho de volta, deve levar embaixo do braço somente aquela velha malinha gasta, surrada e encardida, onde cabiam somente o terninho curto e poído, herdado do pai, uma troca de roupa, escova e pasta de dentes, o sabonete Gessy Lever envolto em um pequeno pedaço de papel higiênico, o pente plástico de R$ 0,30 e a vontade enorme de fazer História neste mundão de Deus.
É preciso voltar para casa sem os adereços conquistados com o sucesso, para valorizar novamente as coisas simples e lembrar-se que elas são, de fato, as únicas que realmente importam nesta vida. O aconchego do lar, o sorriso sincero daqueles que nos amam, o cheirinho inconfundível da comida da mamãe, do café da tarde fervendo no bule, as longas conversas preguiçosas junto de nossos entes mais queridos. É aqui que reencontrará a si próprio, que também perdeu-se nesta escalada ao topo, e então poderá novamente recomeçar sua luta com força renovada. Mas alguma coisa terá que ficar pelo caminho.
Primeiramente, é preciso recuperar seu símbolo maior, o escudo redondo de fundo vermelho, com suas três letras iniciais entrelaçadas em branco, sua marca indelével e reconhecida mundialmente. Jogue fora imediatamente esta coroa ridícula e sem sentido! Ou melhor, devolva-a a quem obrigou-o a usá-la, para que ostente-a em sua própria cabeça, a cabeça que tem carrega idéias equivocadas a respeito do que é o Sport Club Internacional. Esta é a cabeça que merece ostentar este adereço patético, incompatível com o Clube do Povo e sua História. Cabeça de uma pessoa que deveria também carregar uma melancia no pescoço, talvez até aquela melancia que, na roça, os moços "mais precisados" deixam esquentando no sol, fazem um buraco e mandam ver. Sim, carregue a coroa na cabeça e esta melancia usada no pescoço quem é digno delas!
E as festas, ah as festas!, repletas de gente afetada, desinteressante mas interessada, flashes, música eletrônica ou lounge, em ambientes requintados, acompanhadas por estes repórteres que perseguem celebridades, como é mesmo o nome dado a eles? Paparazzi! Isto mesmo, paparazzi, nome italiano, chique, não? Quanta gente, Inter, já não lhe deu tapinhas nas costas, abraçou-o e fez pose para ter a foto publicada nos mais populares veículos de comunicação? Tudo falso, imprestável, descartável! Por onde anda esta gente toda, agora que seu sucesso está abalado pelos descaminhos pelos quais enveredou? Já leu, por acaso, Drumond? Há um poema bastante oportuno, "E agora, José?". A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou, e agora, José? E agora, você, Inter?
Agora que estamos aqui para isto! A velha e apaixonada torcida está no mesmo lugar em que sempre esteve, pintada de vermelho, à sua espera, cândida e angustiadamente. Nas ruas e praças de Porto Alegre e do Mundo, nos botecos esfumaçados, nas igrejas pagando promessas e pecados, na esquina do Santiago Bernabeu gritando "Dá-lhe,Inter!" ao ver uma moça vestindo o Manto, nas arquibancadas de qualquer estádio onde uma bola esteja rolando, em qualquer lugar onde bata um coração vermelho, doente de tão Colorado. Um coração que bate feliz, não por seu Inter ganhar ou perder, mas por ver todos seus ídolos disputarem uma partida como se fosse a última de suas vidas, por atirar-se à bola como um faminto atira-se a um prato de comida, se o finado Nelson Rodrigues me permite usar uma de suas imagens geniais.
Mas sua velha e apaixonada torcida estará, fundamentalmente, naquele lugar onde você poderá cair roto, cego e delirante, enlouquecido pela ascenção e queda, que será imediatamente reconhecido, recolhido, acalentado e amado. Estaremos aqui, sempre à sua espera, na sua casa, o Gigante da Beira-rio, entoando cânticos de guerra e amor ao nosso clube do coração, arquibancada lotada, rugindo e mostrando os dentes aos visitantes atônitos, levando-o de volta à senda de vitórias.
Sim, porque nunca se esqueça, Inter, que você pode correr o mundo, ir a Tókio, Dubai, Paris, Noviorque ou Buenos Aires, mas o seu verdadeiro lar estará eternamente fincado à margem do Guaíba, onde chegam os últimos raios de luz das tardes ensolaradas de Porto Alegre. É aqui que você poderá olhar-se no espelho, reconhecer-se e retomar o caminho que nunca deveria ter deixado de trilhar, mas sem perder-se novamente nos descaminhos da glória e da fama, permanecendo para sempre como o Clube do Povo."